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Mulheres de flores e de aço.

Semana Santa tinha cheiro de manjericão e arruda. O roxo nos altares cobria as imagens. Uma tristeza superior sobrepunha-se às costumeiras. A banda municipal entoava marcha fúnebre, enquanto a procissão arrastava-se em longa e prolongada tristeza. Sofríamos por tudo. Pelo real, pelo imaginário. Chorávamos por todas as causas. Coletivas e particulares. Catarse pública, sem necessidade de explicações. Choros calados, represados ao longo do ano. Sofrimentos escusos, secretos, vergonhosos. A agonia do crucificado justificava qualquer forma de lamento. 
Eu mesma já chorei muito na procissão do encontro, aquele momento dramático em que a Virgem das Dores depara com o filho e seu algoz, por razões que tenho vergonha de contar, mas conto.
Enquanto a multidão chorava pelas razões religiosas que aquele encontro sugeria, eu soluçava era por meu amor não correspondido.
É quase uma blasfêmia eu confessar isso, mas essa era a verdade. Queria morrer de tanta culpa. Ao invés de pensar no sofrimento da mãe de Deus e de contemplar misticamente os últimos passos de Cristo na Terra, eu ficava era remoendo o desprezo do Zé Raimundo. 
A espada que transpassava o coração da Virgem Maria também feria o meu. Por razões diferente,  mas feria. Também eu tinha lágrimas de sangue rolando dentro de mim.
(MELO, Pe. Fábio De. Mulheres de aço e de flores, 2015, p.15,16).

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É um livro que tem uma narrativa envolvente, Pe. Fábio com seu olhar poético sobre as ausências humanas, conta histórias de personagens e lugares atingidos pelos misteriosos territórios da solidão e do desamparo existencial.

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